Como o tempo passa!
Há poucos anos comprávamos uma 4Rodas festejando o retorno dos carros importados com uma 164 1991/92 vermelha na capa. Em 94 e 95 elas realmente estavam no auge, vieram ao todo 6277 delas.
Mas, como bem falou o amigo Mauro Mendonça, “uma 164 1995 está virando debutante…ano que vem vamos ter bailes para as 164… “. O legal é ver que muitas vão permanecer vivas e originais pelo empenho de entusiastas apaixonados. Cuidaremos das nossas 164, como poucos fizeram com as 2300. E teremos um futuro com carros confiáveis e representando o que elas realmente são. O futuro onde não será impossível se ter um carro antigo, importado, e viável para viagens e encontros.
Como todo carro de idade, elas sempre terão alguma coisa para fazer, rodando ou paradas. A minha, uma 12v 1995 que acabou de comemorar seus 100.000km e ilustra essa crônica, está com bomba da DH chorando, painel digital com relóginho falhando, e volante esperando couro novo. Depois que eu arrumar tudo isso, alguma outra coisinha vai lhe avisar que o carro que estreou no início da tecnologia da eletrônica embarcada (quanto mais coisa para mexer, mais coisa para mexer né não?). Falando nisso, jamais vi carro que reclama mais de ficar parada que uma 164. Deixe a sua 30 dias na garagem e ela vai sair cheia de enjôos e barulhos esquisitos só para deixar você nervoso. Passa logo, mas decididamente ela não é o carrinho obediente que você gostaria…..
O Roberto Nasser incluiu a 164 com muita propriedade na sua lista de futuros clássicos no Brasil. Foi uma mudança de paradigmas e uma renovação do fabricante (num momento particularmente crítico). No Brasi, um marco da abertura das importações, apesar dos tropeços da mãe Fiat.
Mas a aura da 164 permanece: um carro superlativo nos seus extremos. Desliza silenciosamente, “tipo barca”, com a melhor tecnologia do fim da década de 80, um assombro na época, e que ainda impressiona: ar digital num painel extravagantemente cheio de botões, air bag (será que funciona depois de 15 anos?), bancos elétricos, um couro que parece indestrutível, persianas no vidro traseiro, radio toca-fitas escondido sob uma tampa, cambio manual com peso de carro de verdade…… e o cheiro… cheiro de 164.
O legal de ter um carro tão top de linha na sua época, você consegue sentir e possuir, sem muito gasto, um produto feito para os poderosos, um carro que só encontra similares em altos patamares. Isso nenhuma outra Alfa da sua época alcançou. Andar num carro desses, mesmo 15 anos depois, é sentir seu ego massageado por possuir um produto feito para um público seleto e exigente em todo o mundo. Alfa Romeo nunca foi um carro vulgar. E a 164 era o máximo.
Se comparado aos carros 15 anos mais novos, falta uma trava automática das portas, e porta-trecos convenientes para carteira, chaves e celular. O resto, ela é bem atual.
Mas essa viatura vestida elegantemente de Pinninfarina tem seu outro lado, que muitos já ouviram falar, mas que nem tantos sentiram: seu lado besta-fera, seu lado animal, que surge quando é provocada.
Fomos felizardos, recebemos aqui no Brasil somente a topo de linha, destinada aos executivos e bem nascidos, com o motor Alfa Romeo V6, capítulo à parte, endeusado (se isso é possível para um motor) pelo seu comportamento e sonoridade (que varia de um ronco metálico em baixa à um urro em alta (excelente definição do Bellote) e que em 2005 saiu de linha sem deixar um substituto à altura. Obra-prima da casa de Arese
Esse motor de comportamento explosivo não tem na 164 os amortecimentos sonoros e sensoriais que ganhou nas Alfas mais novas (dirija uma 166 e você notará diferença inacreditável). Quando você acelera uma 164, não interessa se 12v ou 24v, pouca coisa consegue acompanhar. Você deixará o transito para trás de uma maneira violenta. Poucos sedãs atuais são capazes de tamanha agressividade, e muitos esportivos ficam intimidados diante da estupidez italiana. Ela passa uma sinfonia de sons culminados por um chiado rasgado do motor em alta rotação. No Brasil, para ter esse motor assim, cru, ou compre uma 164 ou pague 5 vezes mais por uma Spider.
É para isso que ela foi feita: para ser superlativa. Ronronando como carro de luxo ou berrando seu motor esportivo, uma 164 é algo que fascina, apaixona, assusta e recompensa. Você sempre ficará na dúvida de dominou ela, ou se é ela que dominou você….
Eu ainda não descobri, mas esta máquina temperamental me pegou de jeito…… Que carro!
Quer uma? Leia o guia de compras: http://www.alfaromeobr.com.br/guiadecompra.php
E escolha entre a 12 e a 24v: http://www.alfaromeobr.com.br/diferencas16412V24VSuper.php
Como presente para os amigos, os vídeos magníficos (e incrivelmente antigos) do making of e pré-produção das 164.
Abraços,
Renato Cunha